Em dezembro de 2011, Eric Schmidt, presidente do conselho do Google, previu que em seis meses os desenvolvedores de aplicativos para smartphones estariam lançando versões de seus produtos primeiro para o sistema operacional Android, criado por sua companhia, e só depois para o iPhone.
Um ano depois do prazo inicialmente mencionado por ele, a previsão ainda não se concretizou. No entanto, embora os criadores de aplicativos ainda não vejam o Android como superior ao Apple iOS, agora os dois sistemas são parecidos em muitos aspectos.
"A Apple não está ficando para trás, mas o Google está reduzindo a distância", diz Tom Bedecarre, presidente da AKOA, agência digital do grupo WPP.
"A imensa vantagem inicial da Apple representava uma barreira incrÃvel, no começo, mas a vasta escala da rede Android permitiu que o Google se aproximasse."
O momento em que o total de aplicativos baixados para o Android superará o de downloads no iPhone e iPad está se aproximando mas demora a chegar. Os aparelhos Android começaram a vender mais que o iPhone no primeiro semestre de 2011.
A disparidade nos downloads reflete uma preocupação persistente dos criadores de aplicativos: os usuários do Android não usam tantos aplicativos quanto os do iPhone, mais caro, e pagam por proporção ainda menor daqueles que baixam.
"O volume bruto de vendas do Android vai gerar mais downloads, mas com base em downloads por aparelho, os equipamentos dotados de iOS consomem mais aplicativos", afirmou Horace Dediu, analista do setor móvel na Asymco, em recente nota de pesquisa. "E a distância quanto a isso não está se reduzindo".
Dediu estima que mais de 80 aplicativos sejam baixados para cada aparelho Apple vendido, enquanto no caso do Android o total é inferior a 55.
O grande número de aparelhos que utilizam o Android, com tamanhos de tela diferenciados, sistemas operacionais adaptados à s necessidades de fabricantes e capacidades de hardware distintas, continua a tornar mais difÃcil criar aplicativos do que no caso da famÃlia Apple de celulares e tablets, muito menor, dizem os desenvolvedores.
"O que ouvi de alguns desenvolvedores como base de cálculo é que custa quatro vezes mais desenvolver um app para o Android, e o engajamento é 50% menor", diz Dediu.
PLATAFORMA PREFERIDA
Carl Manneh, presidente-executivo da Mojang, que produz o popular jogo virtual Minecraft, diz que "sim, o Android avançou com relação ao iOS ao longo do tempo, mas o iOS continua a ser a plataforma móvel número um para nós, por larga margem".
Aplicativo com dezenas de milhões de downloads no Android e no iOS, o Minecraft é oferecido em uma versão gratuita e limitada ou em uma edição "premium", com preço de US$ 6,99, nas duas lojas de aplicativos. A Mojang constatou que os usuários do Android são muito mais sensÃveis a preços e menos inclinados a pagar por apps.
Ainda que o número total de downloads seja semelhante nos dois sistemas, 23% dos usuários do iPhone e iPad pagam pela versão "premium", enquanto 93% dos usuários do Android usam a versão grátis.
Mesmo assim, entre os aplicativos gratuitos, a escala do Android faz diferença. Aplicativos já estabelecidos e populares como o Twitter e o Foursquare inicialmente priorizavam o iOS mas agora lançam atualizações simultâneas para os dois sistemas, e alguns recursos chegam primeiro ao Android.
A Apple continua mais popular nos Estados Unidos, mas o Android vem ganhando prioridade entre os desenvolvedores que tenham por alvo outros mercados, grandes ou de rápido crescimento, como Coreia do Sul, Japão, Brasil e Turquia.
No mês passado, no evento Google I/O, a companhia de busca online apresentou diversas melhoras para os programadores, tais como recursos de tradução de idiomas, capacidades para múltiplos jogadores e análise de tráfego.
Desde que o Android Market foi relançado como Google Play, em março de 2012, também vem trabalhando para facilitar o uso da loja de aplicativos e expandir seu serviço de pagamento digital, Google Wallet, a maior número de mercados.
Isso força a Apple a fazer mais para encantar os desenvolvedores em seu Apple Worldwide Developer Forum, na semana que vem.
Falando na recente conferência AllThingsD, Tim Cook, presidente-executivo da Apple, disse que a empresa abriria mais a plataforma iOS aos desenvolvedores.
RESTRIÇÕES
Hoje, o iOS oferece menos opções aos programadores --por exemplo, o Facebook Home, que ocupa toda a tela inicial do smartphone, não seria permitido no iPhone-- e a equipe da empresa revisa todos os aplicativos oferecidos em sua loja, ao contrário do que faz o Google, cuja abordagem é mais aberta.
"Creio que vocês nos encontrarão mais abertos no futuro --mas não em grau que cause o risco de uma má experiência para o consumidor", disse Cook.
Ainda que não tenha oferecido maiores detalhes, isso poderia incluir permissão para que outros apps sejam controlados por meio do Siri, o comando de voz do iPhone, e mais opções para que os desenvolvedores melhorem o aplicativo Maps, que sofreu crÃticas por sua falta de precisão.
Alguns analistas acreditam que os apps tradicionais estão se tornando um ponto de diferenciação menos importante entre as plataformas móveis.
Controles por voz, como o Siri, ou assistentes preditivos, como o Google Now, podem se tornar fatores mais importantes quando um consumidor escolhe um celular inteligente.
"Há grandes lacunas no Google Now e no Siri, mas os dois sistemas tentam ir além de uma busca digitada ou de clicar em um app, e se tornar uma versão mais inteligente de como um celular pode ajudar o usuário", diz Benedict Evans, da Enders Analysis, uma companhia de pesquisa.
Em uma aliança acidental, a Amazon, ocasionalmente rival do Google, está ajudando a encorajar os desenvolvedores ainda relutantes a criar aplicativos para o sistema operacional Android, criado pelo gigante das buscas online.
Os proprietários do tablet Kindle Fire apresentam maior propensão a pagar por aplicativos do que os usuários de outros aparelhos Kindle, porque a companhia de varejo online retém mais detalhes de cartão de crédito que o Google e torna o processo de compra mais fácil e mais rápido, dizem os desenvolvedores.
E alguns deles terminam por incluir seus apps na rede muito mais ampla do Android, que inclui aparelhos da Samsung e HTC.
FONTE ABERTA
O Kindle Fire opera uma versão modificada do Android, que é um software de fonte aberta, o que significa que qualquer fabricante pode usá-lo gratuitamente.
Tornar um app compatÃvel com outros aparelhos Android é mais fácil quando ele é portado do Apple iOS para o Kindle, ainda que não exista parceria comercial entre a Amazon e o Google.
Depois do lançamento do novo Kindle Fire, em dezembro, a Toca Bora, uma produtora de apps de San Francisco que vende apps infantis de US$ 3 para o iPhone e o iPad desde 2011, estreou no Google Play uma semana atrás com o Toca Bora Hair Salon 2.
A decisão é o mais recente exemplo de como os desenvolvedores superaram suas preocupações constantes quanto à capacidade de gerar faturamento com a rede de 900 milhões de aparelhos acionados pelo sistema do Google.
A despeito da vasta escala, Björn Jeffery, presidente-executivo da Toca Bora, diz que "esperamos que um ecossistema pago maior emergisse" antes de lançar o app no Android. A companhia queria ver provas de "um pouco mais de gasto com compras de aplicativos" na loja de downloads Google Play.
Porque os jogos da companhia são dirigidos a crianças, formas mais tradicionais de faturar com um app --via publicidade ou compras de nÃveis ou vidas adicionais dentro do jogo-- não seriam apropriadas, diz Jeffery.
Mas depois de 15 milhões de downloads no iOS, havia clientes reclamando por os brinquedos digitais da companhia não estarem disponÃveis no Android, diz Jeffery.
"O iOS continuará a ser nossa plataforma primária porque a experiência que ele oferece ao consumidor continua a ser mais forte e consistente", ele diz. A complexidade de desenvolver versões para diferentes aparelhos Android parece "problemática, para dizer o mÃnimo", ele acrescenta.
Fonte: Tribuna Hoje