SĂŁo Paulo - Depois de anos de desconfiança sobre a viabilidade dos carros elĂ©tricos, as montadoras da Europa começam a apostar a sĂ©rio na nova tecnologia, movidas pela receptividade crescente dos clientes. Em um ano, a venda de automĂłveis de propulsĂŁo elĂ©trica na França cresceu 100%. A base de cálculo ainda Ă© pequena, mas diante de um mercado automotivo em crise, no qual os construtores nĂŁo param de ter prejuĂzos e quedas nas vendas, os 4,7 mil novos proprietários do primeiro semestre podem indicar uma tendĂŞncia.
No mesmo perĂodo de 2012, os compradores de carros elĂ©tricos na França somavam 2,27 mil - ou menos da metade. E esse crescimento foi registrado em um setor em crise, com vendas gerais em queda de 11%. Em junho, segundo o ComitĂŞ de Construtores Franceses de AutomĂłveis (CCFA), a opção por veĂculos a eletricidade cresceu 10 vezes. A perspectiva das montadoras Ă© de que 2013 represente um novo patamar de comercialização para esse segmento, que deve superar a marca de 15 mil vendas na França.
O avanço ocorre apesar dos preços elevados, entre 13,7 mil euros e 27,9 mil euros, no caso de veĂculos de sĂ©rie - há ainda supermáquinas elĂ©tricas, cujos preços se aproximam dos mais caros automĂłveis de luxo ou de esporte.
Um dos pioneiros do mercado, o grupo Renault-Nissan chegou no final de junho a uma marca emblemática: a de 100 mil carros elĂ©tricos já vendidos no mundo desde dezembro de 2010. Boa parte deste sucesso vem do JapĂŁo: por lá, o Nissan Leaf já soma 71 mil unidades vendidas, Ă frente da concorrente Mitsubishi i-Miev. Na Europa, onde o interesse ainda Ă© incipiente, a montadora vendeu 29 mil unidades, o suficiente para somar 61% do mercado. “A era do veĂculo de emissĂŁo zero de massa começou”, disse o presidente do grupo, Carlos Ghosn, no fim de julho.
O resultado impulsionou a Renault, que está em crise na França, a multiplicar as opções à venda. Lançou o Zoe, primeiro modelo 100% elétrico, que já vendeu 6 mil unidades desde 2012. Além dele, a montadora prepara versões elétricas de modelos existentes com motores a gasolina e diesel, caso do Kangoo ZE, do Twizy e do Fluence.
Faltam concorrentes. Em parte, o resultado da Renault vem sendo obtido pela falta de concorrentes e pelo investimento maciço na tecnologia - são € 4 bilhões em pesquisa e desenvolvimento, uma prioridade do executivo franco-brasileiro Carlos Ghosn.
Quanto Ă concorrĂŞncia, o cenário começa a mudar. No fim de julho a BMW apresentou o i3, seu primeiro modelo elĂ©trico. Com autonomia entre 130 e 160 quilĂ´metros, o veĂculo chegará ao mercado por 27,9 mil euros, preço que poderá ser reduzido em atĂ© 7 mil euros graças a “bĂ´nus ecolĂłgicos” concedidos como incentivo fiscal por alguns paĂses.
A Smart, fabricante do já clássico carrinho de dois lugares, a Volkswagen, com o Up!, a Ford, com o Focus, e a Mercedes, com o Classe B, também se lançarão à concorrência do setor, que atrai as montadoras na Europa em razão das novas normas de emissão de gás carbônico, a serem adotadas em 2020.
Entre consumidores, a curiosidade, mesmo entre quem ainda nĂŁo tem um, Ă© crescente. “Eu estou pensando em comprar um carro elĂ©trico, mas tenho dĂşvidas do ponto de vista prático. Será um veĂculo apenas para trajetos cotidianos entre o trabalho e nossa casa?”, diz o administrador Elio Mercier, que busca mais informações sobre autonomia e tempo de recarga, alĂ©m da relação custo-benefĂcio, antes de investir na nova tecnologia.
O mercado sĂł nĂŁo cresce mais porque as limitações de infraestrutura persistem. Em toda a França, por exemplo, há apenas 6,5 mil estações de reabastecimento de carros elĂ©tricos, 4 mil delas em Paris, graças ao sistema de veĂculos pĂşblicos de locação Autolib (leia abaixo). “Há um pouco de frustração porque o que nĂłs queremos Ă© o desenvolvimento das infraestruturas”, reconheceu Ghosn. As informações sĂŁo do jornal O Estado de S. Paulo.