Nem o chefe, nem a lista extensa de tarefas: o que
realmente pode estar tirando sua cabeça do lugar é a maneira como você encara o
próprio trabalho; entenda.
São Paulo – A cabeça já não fica mais no lugar, o coração
palpita descontinuado e o peso do mundo parece cair sobre seus ombros –
literalmente. A vontade é de chorar ou espernear. Bem no meio do ambiente de trabalho.
Quem já chegou muito perto
de um cenário como o descrito acima sabe o quanto é difÃcil controlar as
emoções quando você está à beira de um ataque de nervos – mesmo durante o
expediente.
Agora, por mais que você
tenha, na ponta da lÃngua, as situações que desencadearam os sintomas de stress, estes fatos podem ter sido apenas a gota d´água. As causas da
falta de equilÃbrio emocional no trabalho (e na vida) quase sempre são mais profundas e passam,
em alguns casos, pela crença em alguns conceitos equivocados de carreira.
Consultamos alguns
especialistas e eles elencaram quais os mitos sobre ascensão profissional que
muita gente segue friamente, mas que podem levá-los a perda da sanidade mental,
mesmo que momentaneamente.
Mito 1 - Quando tiver um bom salário,
serei feliz
O salário e a estabilidade
financeira que o emprego oferece até podem ser as principais explicações que os
brasileiros dão para justificar porque rumam todos os dias para o trabalho. Mas
isso não é tudo e, às vezes, o preço de uma conta mais robusta no fim do mês
pode ser muito alto.
“O dinheiro é uma das moedas
para comprar a felicidade, mas não é a principalâ€, diz Eduardo Ferraz, autor do
livro “Seja a pessoa certa no lugar certoâ€. “O profissional se mata durante
dois anos, vara finais de semana, ‘esgoela’ para entregar resultados, quando
recebe um aumento, ele se pergunta valeu a pena? Em alguns casos, a resposta é
nãoâ€.
Mito 2 - Todo esforço será devidamente
recompensado
Pior:
à s vezes, o profissional cumpre a lista anterior de sacrifÃcios e, em troca,
não recebe sequer um obrigado. E é aà que chegamos a outro mito de carreira que
enlouquece: “A pessoa sai queimando asfalto certo de que a recompensa viráâ€,
afirma André Caldeira, da Propósitos. “Só que a gasolina acaba no meio do
caminho†sem que o horizonte mostre um esboço do prêmio para tanto
trabalho.
A sensação de nadar, nadar e
nunca chegar à praia desmotiva. E, às vezes, entristece e faz adoecer. Mas o
fato é que, em um mercado competitivo, a recompensa raramente vem na mesma
velocidade e medida da sua dedicação.
O ponto, então, é colocar na
balança seus objetivos e o custo benefÃcio de cada ação. Afinal, “todos têm um
limitador que é a saúdeâ€, diz Caldeira. Negligenciá-la em nome de algo ainda
etéreo nem sempre é a melhor opção.
Mito 3 - Você precisa ter controle de
tudo
Nem sempre. “Cada vez mais
estamos interconectados: seu trabalho depende do outro que, muitas vezes, pode
estar do outro lado do mundo, não falar sua lÃngua e estar em outro fuso
horárioâ€, descreve, com razão, André Caldeira.
Em outros termos, quase nunca você terá
controle de cada detalhe da operação. E em alguns momentos, algumas pontas
irão, sim, escapar de suas mãos.
Aprender a ser flexÃvel
tolerante e a se adaptar rapidamente aos novos contextos é a combinação
essencial para não pirar diante de tanta dependência.
Mito 4 - Você deve fazer tudo
sozinho
Definitivamente, não. A cada
dia as empresas valorizam mais quem sabe trabalhar em equipe e investe em
cooperação. Ou seja, a ideia de uma pessoa que constrói a própria trilha de
sucesso profissional sozinha está desatualizada.
Hoje, sai na frente quem
costura boas alianças e entende que “para que o resultado aconteça é preciso
trabalhar com os outrosâ€, como classifica Caldeira. Mais: ganha pontos quem
busca aprender com os outros – mesmo quando o “outro†está em um patamar mais
abaixo na hierarquia.
É das trocas que vem a
inovação, a reinvenção corporativa e os consequentes bons números no final do
trimestre. Na via oposta, do isolamento vem a estagnação e a mesmice.
Mito 5 -
Chegar a um cargo de chefia é (o único possÃvel) sinal de sucesso
Há
quem direcione toda a vida para a meta de subir no escalão um dia. Se isso não
chega (ou demora a acontecer), a consequência óbvia é a desmotivação e o
stress. E, se chega, mas a pessoas não estão devidamente prontas, o resultado é
quase sempre o mesmo - aliado ao fracasso.
O problema é que muita gente se
esquece de que, por serem poucos, cargos de chefia não são para todos. As
carreiras em Y, mais técnicas, estão aà para provar. “Na prática, apenas 10%
das pessoas têm estrutura, personalidade e bagagem para liderarâ€, afirma
Eduardo Ferraz, autor do livro “Seja a pessoa certa no lugar certo†(Editora
Gente).
Mito 6 - Trabalhar em esquema 24/7 é a
chave para ser promovido
Definitivamente, não. Pelo bem
da sua sanidade (e até da produtividade), desligar-se do trabalho é
fundamental. “A pessoa tem que dar o máximo de si nas 8 horas de trabalhoâ€,
afirma Ferraz. “É uma barbaridade colocar na cabeça que você tem que estar
sempre disponÃvelâ€.
Mito 7 - Você nunca pode errar
O
conceito pode até ser clichê, mas é verdadeiro e deveria ser lembrado por todos
profissionais que piram tão logo cometem um deslize: Erros são inerentes Ã
condição de ser humano. E o melhor: eles podem ser o passo que faltava para
acessar a trilha certa.
Sim, isso mesmo. O empresário
Henry Ford dizia que “o fracasso é somente a oportunidade de começar de novo,
de forma mais inteligenteâ€. Ele tinha razão. Quem aprendeu, na raça, onde estão
os buracos em uma rua, sabe de cor como se desviar deles no futuro. Assim, funcionam
os erros no trabalho: um aprendizado a cada fracasso. Um profissional melhor no
fim disso tudo.
“Por outro lado, a tolerância
excessiva aos erros também é um mitoâ€, lembra Caldeira. “A questão é como o
profissional se organiza para entender quais são suas limitações†e trabalha
para superá-las. Afinal, não vale se acomodar e persistir no mesmo erro.
Mito 8 - Emprego não é algo que traz
prazer
É fato que todo trabalho tem seus
pontos negativos. Mas isso não significa que tudo tem que ser ruim e que você
necessariamente tem que odiar o que faz das 9h às 18h todos os dias. “O ideal é
que 30% do trabalho sejam coisas chatas e 70%, o que você realmente gostaâ€, diz
Ferraz. “O que mata e destrói as pessoas é fazer o contrárioâ€.
*Informações da Revista Exame